O Passageiro do
tempo e das distâncias
Essa vida de
capital não é fácil. São 4 horas da madrugada e eu já aqui batendo o dedo no
celular para desligar o alarme. Pronto, de pé, agora só falta (depois do banho,
gole de café, etc.) esperar no ponto o ‘buzu”. Aqui estou, neste momento
olhando pro celular e vejo que já são 4:40h e lá, na outra esquina, vejo o
ônibus coletivo se aproximando. Meu destino é o aeroporto, não para viagem, mas
para pegar duro no batente: a limpeza geral do pavimento térreo, junto
com outros parceiros, do aeroporto Luís Eduardo Magalhães, aqui mesmo em
Salvador. Mas ainda tô aqui na Ribeira, na Baía de Todos os Santos, para seguir
até o Campo da Pólvora e de lá pegar o metrô. Serão 40 minutos pra andar 10 Km, sem engarrafamento e assalto, espero. Eu aqui na cidade grande e a
saudade do meu interior, Miguel Calmon, lá no sertão da Bahia, 360Km daqui e de
ônibus 8 horas de viagem. Pois é, lá assalto não tem, no povoado de Olhos
D’água onde eu vivia na roça, difícil também a sobrevivência, mas, pelo menos,
o coração fez fortuna lá. Mas coração não enche barriga e aqui estou, na
capital, correndo atrás do pão de cada dia.
Quem vem à capital
pra trabalhar, como eu, sem um curso técnico e sem ensino médio não é fácil.
Universidade nem pensar! Sou o que chamam de “pouca letra”. Vou me
contentando com o que aparece e quando der, se der, aí então volto para o
estudo. Mas o meu destino não termina no Campo da Pólvora. Entre a parada do
ônibus, no Campo da Pólvora, e à entrada do metrô foram 3 minutos. Já dentro
do metrô sigo para a Estação Aeroporto. Metrô é rápido e confortável, sem
assalto e o cochilo, por uns minutos, tem seu lugar, mas também não dá pra
vacilar muito não. São 22,5 Km até a Estação Aeroporto demorando 3/4 da hora até
onde trabalho. Em um susto chego ao aeroporto e somente às 6:30h registro com o
cartão magnético minha entrada na empresa.
Este é o meu dia a dia, contando as horas e as distâncias pra não perder o bonde. Sempre presente passando pelo tempo, pelas distâncias, pela velocidade com que a vida passa. Quem não conta as horas, os minutos, ou mesmos os segundos? Pra ir, chegar, o durante. Como vou, como chego. Enfim, passo os dias medindo. E ainda que não fale o tempo, nem a distância e nem a velocidade através de números, saberei que mais tarde, ou amanhã, ou mesmo a noite que chegará levará algum tempo para chegar. Ou ir para onde, ou pra qualquer lugar se deslocará sem ao menos saber quantos metros , quilômetros, ou mesmo centímetros se deslocou. Ainda que não conte em números precisa saber se precisa ser lento ou veloz ou nenhum nem outro, mas meio termo. Todos esses números, tempos, distâncias aprendi com um certo professor, lá na chácara dos Olhos D’água. Naquela época eu fazia uns bicos de capina e reparo na cerca de arame farpado pra família dele, e ouvia e via os alunos na sala dele aprendendo a matemática e a tal da física. Mas sou testemunho que muito não entendia, mas o pouco que aprendi já me serviu . Sei que era uma prosa boa e saudável ouvir aqueles jovens metidos com as letras e números.
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