Eu lanço livros
Jogo as palavras numa pontaria sem rumo
Sabe-se lá onde vão
Nem mesmo sei se vão
Talvez nasçam mortas
Ou mesmo nunca se assoletraram
Ou nem se formaram
Entupiram-se em si
Sufocadas, perpetuam-se abortadas
Palavras suicidas
Essas palavras que não saem
Que nunca viram uma estrada
Que nunca viram um quadro negro
Nem uma página de celulose
Muito menos um byte ou um bit
Palavras que não falam de dor
Nem de alegria
Nem de paz ou violência
É uma palavra muda
Sen dó
Sem mi, de ré
Sem música
Nunca foi uma palavra
Morreu, antes da primeira sílaba
É um réquiem de quem não nasceu
E jamais viveu
Triste da palavra que não se fez
Que não conheceu a infinidade da combinação das letras
Que não conheceu combinar-se
Triste letra não conheceu
Analfabeta, sucumbiu
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