quarta-feira, 25 de maio de 2016
DOCE FRUTO
Pouco depois das
7 da noite ela chegou, atrasada, já se ajeitando na cadeira. Aos poucos suas
ações foram tomando forma, como que pedindo um reconhecimento de si mesma ao
seu esforço, sem nenhuma palavra, somente pelos seus gestos ao retirar os
objetos e por, um a um, em disposição para iniciar suas tarefas. Tal era a
concentração que não havia tempo para os
olhares ao redor. Linha após linha era realizada a tarefa, num olhar para
frente acima de sua altura e para baixo, num vai e vem lento, cadenciado, preciso,
como o soldado que marcha para a batalha. Sem se dar conta, os pingos da chuva,
trazidos da rua por seu corpo, escorriam pelos seus cabelos e roupas em direção
ao chão ou molhando mais ainda sua farda, encharcada em parte, e outros,
poucos, minimamente, descendo umedecendo
seu assento e ferramentas.
Minutos, e eu a
olhando, como quem admira um ser em sua tarefa mais sublime no cumprimento de
seu trabalho numa concentração infinita,
isolada do mundo, buscando uma perfeição pra si. Aquele não é o momento
para perder com o destinatário do serviço, mas com a laborização minuciosa,
detalhada do seu fazer. Um trabalho de execução não apenas no ato de fazer, mas
num planejamento dentro de si, deixando as mãos escorrerem numa prática pensada
no tempo mínimo atrás. Numa alimentação sem fim, com as mãos prontas,
frenéticas, aguardando as próximas tarefas a executar elaboradas em sua mente ,
descansando somente ao final da última demanda.
Doce realização,
imagino-me, admirando o cumprimento de um trabalho, de um esforço para si, para
mostrar-se a si mesma sua capacidade de missão cumprida, pelo seu próprio
esforço, sob um olhar, ao largo!
Simão Barros
sexta-feira, 20 de maio de 2016
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